quarta-feira, 5 de maio de 2010

Agosto - Rubem Fonseca

É sempre bom ler Agosto em ano de eleições. Porque, apesar de não ser um romance estritamente político, Agosto retrata uma época extremamente importante e instrutiva da política brasileira.
É muito interessante perceber como, dado um contexto histórico, o autor desenvolve a sua narrativa característica. Apesar do crime da Rua Tonelero, da presença de Getúlio Vargas como personagem etc. e tal, Rubem Fonseca cria a sua trama padrão entrelaçada com a trama histórica, com quase todos os elementos que o consagraram. Só faltou um anão. Porém, talvez por isso, a parte mais interessante do romance acaba sendo, mesmo, a parte político/histórica. Não me levem a mal, O Cara Comum é fã de Rubem Fonseca, mas, já tendo lido alguns livros dele, na sua opinião, o grande mérito de Agosto é, óbvio, a contextualização naquele momento histórico, uma vez que a sua trama é uma repetição de tudo que o autor escrevera antes (e depois também...). O comissário Mattos é o seu investigador padrão, modelo de personagem presente em diversos romances do autor, e as suas amantes seguem, também, o modelo padrão de personagem secundária feminina relacionada com o protagonista, tanto nos seus comportamentos como na relação que desenvolvem com o protagonista. Por isso, levando em consideração apenas esses aspectos, existem outros romances mais interessantes do autor, porém, a forma como tudo vai se encaixando dentro da parte histórica da narrativa é muito interessante e, também, divertida.
Dito isso, Rubem Fonseca relata com maestria as intrigas, conchavos, traições e tudo mais que pautaram o período durante o qual a narrativa se desenvolve e fizeram as coisas a acontecerem do jeito que aconteceram. É praticamente impossível não associar imediatamente com a realidade contemporânea. É incrível perceber como o formato mudou, mas a essência continua a mesma. A prática política continua a mesma. É incrível, também, como o governo do barbudinho, provavelmente o presidente mais popular da história do Brasil, tem semelhanças com o governo do presidente retratado em Agosto, o dele mesmo, o Pai dos Pobres... Aquele de quem o Cara Comum sempre ouviu sua avó dizer que foi o melhor presidente que este país já teve. Inclusive, aquele busto dele no Rio de Janeiro é horrível, diga-se de passagem... outro dia pintaram o nariz dele de vermelho...
Na opinião do Cara Comum, Agosto, além de ser um grande thriller (eu não consigo escrever essa palavra sem dar risada lembrando de Michael Jackson e aquele clip tosco), mostra como a política fede e sempre fedeu, como a corrupção é quase (quase?) cultural no Brasil e, há cinquenta anos atrás, pelo menos, já operava da mesma forma que continua operando até hoje. Além de ser entretenimento de primeira, claro (o livro não a política).

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